sexta-feira, 28 de março de 2014

ENCOURAÇADO AQUIDABÃ 1885-1906

Aquidabã
Classificado como "Encouraçado de Esquadra", foi construído na Grã-Bretanha pelo estaleiro Samuda & Brothers, e lançado ao mar a 14 de agosto de 1885. O seu primeiro comandante foi o Capitão de Mar-e-Guerra Custódio José de Melo. Tecnicamente era considerado um dos mais avançados da época, chegando a atingir 16 nós com seus motores de 6 200 hp a vapor. Tinha as dimensões de 93 metros de comprimento por 17 de largura e pesava aproximadamente 5 000 toneladas.

Armamento: 4 canhões de retrocarga Whitworth de 9 pol. em duas torres duplas, dispostas em diagonal, uma a BE e outra a BB; 4 canhões de 6 pol. em quatro reparos singelos; 2 canhões de tiro rápido; 15 metralhadoras Nordenfelt e 5 portinholas para lança-torpedos de 18 pol. sendo três na superficie e dois submersos.

Como a sua couraça não protegia igualmente todo o navio, chegou a ser apelidado de "Encouraçado de Papelão" pelo seu primeiro comandante, Custódio de Melo.
Projetil do Aquidabã que atingiu
o campanário da Igreja N. S. da Lapa
em um bombardeio no ano de 1891
Em 21 de outubro de 1890, zarpou do Rio de Janeiro em GT sob o comando do Capitão Carlos Balthazar da Silveira, acompanhado pelo Cruzador Guanabara, para visita oficial aos EUA, retornando ao Rio de Janeiro em 20 de janeiro de 1891, após ter navegado 10.205 milhas marítimas.

Em novembro de 1891, o Aquidabã cumpriu um papel decisivo na reação à tentativa de golpe de estado contra o Marechal Deodoro da Fonseca. Foi de um de seus canhões que saiu o tiro de advertência à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro. 

 Em 1893 tomou parte ativa na Revolta da Esquadra, sob o comando do Capitão-Tenente Alexandrino Faria de Alencar, tendo forçado por várias vezes a barra do Rio de Janeiro.

O encouraçado atingiu o ápice de sua carreira em 1893, no início da Revolta da Armada, quando voltou a ter a bordo o agora Almirante Custódio de Melo, na chefia de uma rebelião contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. O navio cruzou três vezes a baía de Guanabara, resistindo à artilharia de costa e, ainda por cima, levando a bordo o oficial que o chamara de "Encouraçado de Papelão". A partir daí, o seu apelido passaria a ser "Casaca de Ferro".

Entre 17 e 24 de abril de 1893, foi realizada a primeira edição da Revista Naval de Hampton Roads, em Norfolk (Virginia - EUA). Na noite de 23 de abril, o Aquidabã chegou a Norfolk integrando uma Divisão Naval com os C Republica e Tiradentes, para participar da Revista Naval.

O COMBATE DE ANHATOMIRIM

Contratorpedeiro Gustavo Sampaio
Aquidabã no dique seco da Ilha de Cobras (RJ)
na parte inferior do casco o grande buraco provocado
pelo Gustavo Sampaio
Em Abril de 1894 encontrava-se nas àguas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. Durante o combate naval de 16 de abril, junto à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, foi torpedeado pelo Contratorpedeiro Gustavo Sampaio, vindo a afundar parcialmente.O torpedo alagou os compartimentos da proa do Aquidabã, que sem capacidade de navegar, voltou a um local raso, até conseguir apoiar o navio no fundo. Sem mais condições de navegabilidade os revoltosos abandonaram o navio, procurando asilo a bordo de navios estrangeiros ou fuga por terra.

O Aquidabã permaneceu semi-submerso, apoiado no fundo até o final dos combates.
Logo depois foi posto a flutuar e levado ao Rio de Janeiro para reparos superficiais.
Em 1894 o Encouraçado Aquidabã mudou seu nome para 24 de maio, que
rapidamente voltou a se chamar Aquidabã

MODERNIZAÇÃO

Depois de reparos no Rio de Janeiro o navio rumou em seguida para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, para sofrer as recuperações necessárias no casco e máquinas e na artilharia. Somente em 1897 o voltou a navegar, com um armamento ainda mais poderoso: dois canhões Armstrong de 203 mm, quatro de 120 mm e 15 metralhadoras Nordenfeld.
Pelo Aviso de 5 de maio, foi renomeado 24 de Maio, voltando pouco depois a receber de volta o nome original.

Algum tempo depois o Aquidabã retornou ao estaleiro para ser transformado em embarcação para experiências de transmissão de telégrafo sem fio. As mudanças foram basicamente, a retirada dos dois mastros militares (instalados durante a reforma), os tubos de torpedo acima da linha d'água e a instalação de um mastro para a transmissão de dados telegráficos.
Maquete do Encouraçado Aquidabã
Depois de retornar ao mar em abril de 1898, o Ministro da Marinha, Almirante Elisiario José Barbosa, designou o Aquidabã para transportar o submarino de projeto de Claude Goubet mandado construir na França em 1894, de Cherbourg, onde realizaria os testes finais, para o Brasil, o que não ocorreu pelo não cumprimento do contrato por parte do construtor.

Em 2 de janeiro de 1901 foi extinta a Divisão de Estação e Criada a 2ª Divisão de Evoluções tendo como comandante o Contra-Almirante Justino de Proença e composta pelos Encouraçados Aquidabã e Deodoro, pelo Cruzador Tiradentes e Cruzador-Torpedeiro Tymbira.

A TRAGEDIA

No dia 21 de janeiro de 1906, quando fundeado na baía de Jacuecanga, em Angra dos Reis, junto com o Cruzador Barroso e o Cruzador Tamandaré, quando faltavam poucos minutos para as 11 horas da noite, por razões até hoje desconhecidas, o Aquidabã sofreu uma violenta explosão em um paiol de munição contendo cordite, partindo-se ao meio e vindo a afundar. Faleceram no desastre 212 homens da sua tripulação, inclusive parte da comitiva ministerial que procedia a estudos sobre o novo porto militar, o seu comandante e grande parte da oficialidade do encouraçado de guerra. Salvaram-se apenas noventa e oito pessoas.

A pouca distância, a bordo do Cruzador Barroso, o então Ministro da Marinha, Júlio César de Noronha, assistiu à explosão do encouraçado, encontrando-se entre as vítimas, o seu próprio filho, o Guarda-Marinha Mário de Noronha e um sobrinho, o Capitão-Tenente Henrique de Noronha, além do Contra-Almirante Rodrigo José da Rocha e do Contra-Almirante João Cândido Brazil, Patrono do Corpo de Engenheiros Navais da Marinha Brasileira.

A notícia da catástrofe espalhou-se imediatamente, tornando-se manchete dos principais periódicos de todo o mundo. Segundo o pesquisador da área educacional, Ivanildo Fernandes, no dia no naufrágio, foi emitida a seguinte nota de pesar, Expediente de 27 de janeiro de 1906, dirigida ao Presidente Rodrigues Alves, no qual estavam alunos da Academia do Commercio.

Illm. Exm. Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, Dignissimo Presidente da Republica. Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1906.—Ante o tragico episodio occorrido na enseada de Jacitecanga, os alumnos Academia de Commercio do Rio de Janeiro [atual Universidade Candido Mendes no Rio de Janeiro] e os seus collegas da Escola Commercial da Bahia, respeitosa e profundamente consternados, veem manifestar a V. Ex. a sua solidariedade na magua que ora compunge a alma da Patria. O momento actual representa para a Republica a mais dura e commovente das provações que ella já ha soffrido. A V. Ex., como dignissimo o directo representante do povo brazileiro, de que somos obscura parcela, cabe receber a expressão da mais sentida condolencia pelo infortúnio que experimentamos. Affeitos e confiados no animo torto de V. Ex., tão sobejamente provado, estamos certos do que a angustia por que passa neste momento a vida nacional, produzirá, longo de desanimo, a vontade de prosoguir no louvável e extraordinario resurgimento observado no governo de V. Ex. Digne-se, pois, permittir V. Ex. que reiteremos os nossos pezames sentidos pela horrorosa, catastrophe que privou o Brazil de um pugilo do tão distinctos e devotados servidores. A nossa dor é, como a de todo o Brazil, inteira, intensa, eterna e inexprimivel. Muito respeitosamente. — A Commissão. Alvaro de Mello.—Julio de Abreu Gomes.—Percilio de Carvalho. 

Fonte: DOU de 01 de fevereiro de 1906, fls 637.

Monumento em homenagem as vitimas erguido em 1913 na baia de Jacuecanga na cidade de Angra dos reis
Após este acidente, a Marinha criou um setor responsável pela identificação dos tripulantes, pois diversos corpos encontrados não puderam ser reconhecidos à época.

Quanto à exatidão do dramático acontecimento, foram encontrados três relógios que ainda marcavam a hora aproximada da explosão. O relógio do capitão Santos Porto marcava 22h42; o do segundo tenente Enéas Cadaval, 22h45; e do Almirante Calheiros 22h47.

Destroços do Aquidabã no fundo do mar
Atualmente os destroços repousam a uma profundidade entre 8 e 18 metros , ao largo do monumento em homenagem às vítimas da tragédia, inaugurado em 1913 na Ponta do Pasto. 

DATAS

Batimento de Quilha: 18 de junho de 1883

Lançamento: 17 de janeiro de 1885

Incorporação: 14 de agosto de 1885

Baixa: 21 de janeiro de 1906

CARACTERÍSTICAS

Deslocamento: 5.029 ton.

Dimensões: 85.40 m de comprimento, 15.86 m de boca e 5.49 m de calado.

Blindagem: de 178 à 280 mm nas laterais do casco; 254 mm nas torretas principais e 254 mm na superestrutura.

Propulsão: mista; vela, com três mastros armado em Barca, 8 caldeiras cilindricas a carvão e 2 máquinas combinadas de três cilindros a vapor, gerando 4.500 hp e acionando dois eixos com hélices convencionais.

Velocidade: máxima de 14.5 nós.

Raio de ação: 6.000 milhas à 10 nós.



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